sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

01 de fevereiro de 2010

O primeiro dia de aula foi muito legal, exceto pela parte chata. Sei lá o que acontecem com as pessoas aos sete anos de idade, só porque agora estamos numa escola que pode prender a gente em uma série por mais tempo, elas se tornam chatas. Ou talvez isso seja só na minha sala. As meninas andam iguaizinhas às meninas grandes, as adolescentes. E falam iguaizinhas a elas também. É meio assustador. Os meninos continuam legais, então por isso prefiro ficar com eles, mas parece que os meninos ainda não gostam de meninas, igualzinho era no pré-escolar. E se tento brincar com eles eles me chamam de “Maria-homem”. Ainda bem que tenho minha amiga Bruna, que não é menino e nem é uma crianscente (é o único nome que faz sentido para chamar as meninas da minha sala). A professora, a tia Ana, é bem legal. Ela conversou comigo e me disse que sou esperta. Deve ser porque sei ler e escrever igual as crianças da quarta série.
Aprendi a ler e escrever há dois anos, e papai tem uma coleção de gibis, então eu fico lendo de noite, quando meus dedos já cansaram do videogame e não posso mais brincar na rua. E gosto de escrever também as histórias que a Alice, minha amiga que só eu posso ver (mamãe diz que é uma amiga imaginária e que depois ela vai sumir, mas eu duvido, já que converso todos os dias com ela e a gente brinca bastante. Talvez ela vire uma amiga que só eu posso ver grande e vire adulta, bem, tenho que conversar sobre isso com Alice), então acho que é por isso que sou boa nisso. Gosto de matemática também, porque os números são divertidos, eles se transformam em outros quando a gente faz algumas coisas com eles, como somar, ou subtrair. Na verdade, de todas as matérias, a única que eu não gosto de verdade é a hora de ir embora. Não sou muito boa em educação física, mas quando brincamos de queimada meu time sempre ganha, porque eu corro muito rápido e sempre consigo escapar da bola. E sou boa também em pique-esconde, mas não tem muita graça brincar porque como me escondo muito bem todo mundo desiste de me procurar e vai brincar de outra coisa. Só a Bruna me acha sempre. Ah,e a Alice também.
Quando cheguei em casa contei tudo pra mamãe e pro papai sobre como foi meu dia. Claro, só a parte legal, porque quando conto as partes chatas eles dizem que eu tenho que fazer mais amigos, mas as pessoas são muito estranhas. Nunca esperava dizer isso sobre crianças – porque é óbvio que adultos são sempre estranhos – mas as da minha escola sempre foram. Por isso quando a Bruna não vai eu prefiro brincar com a Alice, ela é bem mais legal que as crianscentes da sala.
O meu plano para não crescer está cada vez mais difícil, mas eu ainda espero conseguir. Afinal de contas eu tenho a Bruna e a Alice para me ajudar. E tem também o Pedro e o Henrique da minha rua, que são os únicos meninos legais que eu conheço (quer dizer, sempre achei os meninos legais, eles é que nunca gostam de mim, tirando o Pedro e o Henrique, que são meus amigos desde que a gente é bebê. A tia Mônica, mãe deles e minha madrinha, é uma das únicas adultas legais que eu conheço. Mas vou deixar pra falar sobre adultos legais amanhã, porque agora estou com sono e mamãe está chegando perto, pode ver a lanterna acesa aqui no quarto e brigar comigo.)

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